Boa parte dos conflitos, são causados mais pela FORMA como se expõe o que se pensa, do que propriamente pelo FATO que causa determinada divergência.

Tomando como base tal preceito, o psicólogo clínico Marshall Bertram Rosenberg e uma equipe internacional de colegas da área, desenvolveu o conceito e processo conhecido como Comunicação Não Violenta (CNV), que seria capaz de estimular a Compaixão e a Empatia (por isso também chamada de Comunicação Empática), tornando possível o estabelecimento de relações de parceria e cooperação, em detrimento da adoção de atitudes e posturas como as do uso de ameaças, acusações, julgamentos, medo e vergonha.

Rosenberg aplicou o modelo de Comunicação Não Violenta em Programas da Paz em Ruanda, Burundi, Nigéria, Malásia, Indonésia, Sri Lanka, Oriente Médio, Sérvia, Croácia e Iirlanda. E, as contribuições teóricas e práticas de Rosenberg são amplamente utilizadas por profissionais que atuam com Métodos Autocompositivos de Solução de Conflitos, como a Negociação, a Conciliação, a Mediação e a Arbitragem.

Nesse sentido, Rosenberg determinou 4 (quatro) elementos que definem a CNV:

1. Observação: consiste em distinguir os fatos dos julgamentos.

2. Sentimentos: perceber o que você está sentindo diante do fato (e não sua opinião sobre).

3. Necessidades: identificar qual a necessidade vinculada ao sentimento.

4. Pedido: uma vez reconhecido os três elementos anteriores, é possível fazer o pedido que atenda à necessidade de forma eficaz.

Quer um exemplo?

Resumo: Dois sócios marcam reuniões para apresentar seu produto/serviço para clientes. Um deles sempre chega atrasado aos compromissos.

A) Sócio pontual que (ainda) não conhece a CNV:

“Você está sempre atrasado! Nunca consegue chegar nos horários das reuniões! [acusações] Como vamos conseguir fechar o negócio com o cliente se você nunca está comigo?! [julgamentos] Estou cansado disso! Se na próxima vez você atrasar, eu vou cair fora da nossa Sociedade! [ameaças]

B) Sócio pontual que conhece a CNV:

“Eu percebi que você chegou atrasado ontem e hoje nas reuniões de trabalho [fato descritivo, sem julgamentos]. Eu me sinto frustrado [identificação do sentimento], pois acredito que seja importante estarmos presentes juntos no horário marcado para conquistarmos o cliente [expõe a necessidade pessoal de pontualidade]. Na próxima reunião, por favor, peço que chegue no horário combinado [pedido claro e específico]. Se quiser, posso buscá-lo e vamos juntos! [sugestão que acolhe a falha do outro e demonstra que o conflito não é pessoal, mas sim, objetivo diante do fato]

Você consegue perceber a diferença?

Pode parecer, à primeira vista, que a CNV nos leva a “nos calar” diante daquilo que nos incomoda, diante de ofensas ou agressões, mas é justamente o contrário: a CNV é totalmente fundada no diálogo honesto e transparente, não se limita a uma análise egoísta dos fatos (ex.: “você me deixou esperando por horas!”), mas, sim, evidencia os sentimentos (ex.: “me senti abandonado quando você não apareceu”). Trata-se de uma comunicação mais eficaz do que a acusatória, que devolve ao outro todo o nosso ressentimento, e também do que aquela que cala passivamente e sufoca a pessoa nos próprios rancores.

Valer-se do uso da Comunicação Não Violenta, por vezes, não é uma tarefa fácil, exige vontade, disposição e um desejo de melhorar a si mesmo e as relações diárias, sejam familiares, profissionais ou pontuais.

Por conseguinte, é seguro afirmar que a Comunicação Não Violenta é, essencialmente, um exercício de autoconhecimento, uma vez que, ao praticar a autoanálise dos sentimentos e necessidades, o indivíduo exerce a compaixão consigo mesmo e, dessa forma, reconhece suas características, seus medos, qualidades e princípios. Em síntese, conhece a si mesmo e possui as ferramentas de “cura” em si mesmo.

Ao encontro da Comunicação Não Violenta vem outra ferramenta que, de maneira mais profunda, é capaz de auxiliar a potencializar a forma com a qual nos comunicamos: a identificação da Linguagem do Amor utilizada (e valorizada) quando nos expressamos.

De acordo com Gary Chapman, existem 5 (cinco) linguagens básicas pelas quais o amor é expressado e compreendido. Segundo o especialista, cada indivíduo nasce com (ou desenvolve) uma maneira específica de identificar, receber e dar amor. São elas:

1. Palavras de Afirmação: são sentenças expressas em elogios e/ou incentivos que valorizam o outro ou a si mesmo;

2. Qualidade de Tempo: diz respeito à dedicação de um tempo exclusivo, ainda que curto, ao outro a quem se tem carinho;

3. Presentes: nesta linguagem, o valor financeiro de algo material dado é o menos importante; a importância simbólica encontra-se no sentimento de gratidão traduzido em um presente a quem se estima;

4. Gestos de Serviço: são formas de expressão por meio de ações práticas (como cozinhar ou consertar algo quebrado, por exemplo) que demonstram valorização, carinho e preocupação com a felicidade do outro;

5. Toque Físico: indivíduos que se expressam por meio desta linguagem, têm a necessidade de sentir fisicamente o carinho e o amor e, dessa forma, perceberem-se seguros.

Por fim, vale dizer que o uso da Comunicação Não Violenta, bem como o conhecimento da Linguagem do Amor nos relacionamentos (pessoais, familiares e profissionais), é um “caminho sem volta”! As consequências são de tamanha realização que a prática torna-se “um vício”! Cuidado! =)

Gostou? Quer saber mais sobre a Comunicação Não Violenta e as 5 Linguagens do Amor?

Segue abaixo algumas sugestões de leitura e vídeos:

* Marshall Rosenberg falando sobre a CNV:

Vídeo Parte 1 (legendado)

https://www.youtube.com/watch?v=AbQTnHirOnw&list=PLA863LmWZSSyBNYbTWtJqlhL1jeQcVqdk

Vídeo Parte 2 (legendado)

https://www.youtube.com/watch?v=wuvh9D9fAbg

* Site da Fundação de Marshal Rosenberg sobre a CNV:

https://www.cnvc.org/

* Livro sobre CNV:

“Comunicação Não-Violenta – Técnicas Para Aprimorar Relacionamentos Pessoais e Profissionais” – ROSENBERG, Marshall- Editora Ágora

* Livro sobre as 5 Linguagem do Amor:

“As 5 Linguagem do Amor” – 3ª Ed. (2013) – CHAPMAN, Gary – Editora Mundo Cristão