Provavelmente, você se interessou em ler esse artigo porque imagina ou espera, em razão do título, que este seja um artigo cujo conteúdo ofereça “dicas” ou “passos” para “se tornar empreendedor” ou “ter autonomia” ou, ainda, “ser um empreendedor que faça a diferença na sociedade”. Pois bem, não é isso que você vai encontrar neste texto. Ao menos, não dessa maneira, à título de “Cartilha” ou “Manual”.

Sem qualquer tom de prepotência ou petulância, venho apenas expor reflexões, minhas (sim, excepcionalmente, este artigo é redigido em 1ª pessoa do singular), sobre o tema.

É comum e frequente nos depararmos com as palavras “Autonomia” e “Empreendedorismo” combinadas em uma mesma frase e, quando definidas, faz-nos acreditar que praticamente são dependentes uma da outra, seus conceitos estão interligados e entrelaçados e, se você busca “viver” uma das duas, você necessitará aprender ou desenvolver a outra também. Ah! E, quase sempre, estão inseridas em um contexto empresarial, comercial, laboral e, obviamente, de sucesso. Contudo, acredito que essa seja uma visão limitante e rotulada e, vou lhes dizer o porquê:

Sou apaixonada por Gramática e, em especial, por Etimologia da Língua Portuguesa. Então, sempre que estudo um assunto, para melhor compreendê-lo, busco (no Dicionário Etimológico, mesmo) a origem das palavras e a explicação do significado através da análise dos elementos que as constituem. Dito isso, se eu puder fazer uma primeira sugestão a você, seja qual for sua profissão ou área de atuação, é: estude Etimologia das Palavras, envolva-se no vocabulário, aprimore-o por meio dessa ciência. Esse exercício, por si só, melhorará sua comunicação, interpretação e, ainda, desenvolverá sua inteligência.

Sendo assim, a palavra Autonomia, em português, vem do francês, autonomie que, por sua vez, é derivada da combinação de duas outras palavras de origem grega: autós, que significa “próprio, si mesmo” e nomos, que tem o significado de “nomes” e pode ser traduzido e interpretado como “normas, regras”. Autonomia é, portanto, a capacidade de governar-se pelos próprios meios. É um conceito que determina a liberdade do indivíduo (do Estado, Instituição ou Governo) em gerir livremente sua vida, realizando racionalmente suas próprias escolhas. Trata-se de uma realidade que é dirigida por lei própria e, apesar de ser diferente das outras, não é incompatível com elas.

Nesse sentido, a palavra Empreendedorismo compreende o substantivo que deriva de Empreendedor, a qual advém do inglês entrepreneur, que, por sua vez, vem do termo do francês antigo entreprendre, um vocábulo formado pelas palavras entre, do latim inter, que significa “entre, reciprocidade” e preneur, também do latim prehendre, que significa “comprador”. Dessa forma, o conceito de Empreendedorismo ou Empreendedor, por definição etimológica, corresponde simplesmente a “intermediário”. Aparentemente, perdeu um pouco de “charme” esse termo, tão superestimado na atualidade, agora que você o conhece melhor, não é? Mas não desanime, “vamos ao que viemos”: refletir sobre a relação entre Autonomia, Empreendedorismo e Valores Sociais.

Assim sendo, adentremos a esfera do Sucesso: o Sucesso é algo subjetivo, a Felicidade também, pois, o que corresponde a sucesso para mim, pode não ser o mesmo segundo a sua compreensão. E isso é ótimo, na realidade.

O que fará o indivíduo ter sucesso, seja qual for sua definição pessoal de sucesso e, ser feliz, seja qual for sua concepção de felicidade, é exercer sua Autonomia de Vontade. E, é exatamente nesse momento, que os conceitos de Autonomia e Empreendedorismo costumam se fundir, e confundir: “ter autonomia” passa a ser interpretado como “não ter chefe”, “não ser empregado de ninguém” ou, ainda, “viver segundo suas vontades”; da mesma maneira, “empreendedor” é habitual e erroneamente traduzido como “empresário”, sem novidades, passa a ser o sinônimo de sucesso e, quase sempre, é descrito como uma profissão, ao invés de um adjetivo, uma qualidade e uma prática.

Empreendedor é uma característica (que pode ser aprendida, inclusive) das pessoas que possuem a habilidade de visualizar problemas, faltas ou desejos existentes em outras pessoas e intermediar, criar soluções, muitas vezes, apresentadas por outras pessoas também. Uma pessoa empreendedora pode ser um empresário, mas não o é necessariamente. E, vale dizer, que existem empresários, bem sucedidos em termos financeiros, e que não são empreendedores. Contudo, atentem, empresários não empreendedores, sem dúvidas, contam com o auxílio de pessoas (seja no âmbito empresarial, seja no campo pessoal) com a característica empreendedora.

É necessário desmistificar a figura rotulada do “empreendedor que é dono de uma empresa e vive livremente, faz apenas o que quer e, por isso, tem sucesso e é feliz”. Na maioria dos casos, o “dono de uma empresa” é só “um empresário que faz o melhor que pode, como pode e quando pode”. Assim como eu e você! E, acrescento, grande parcela dos empresários não “escolheu ser empresário”, foram as circunstâncias de sua história, as necessidades impostas pela vida e até uma dose de sorte (ou azar, dependendo de quem julga) que o levaram a TORNAR-SE um empresário.

Isso significa que (lá vem a segunda sugestão que eu tomo a liberdade de oferecer) você deve, primeiramente, ser capaz de identificar os Valores Sociais apreciados no momento (levando-se em conta que, de tempos em tempos, eles sofrem alterações, por inúmeras razões) e avaliar se estão de acordo com SEUS Valores Pessoais. Isso é Autonomia de Vontade! É você no centro das suas decisões!

Se, na superfície, a Sociedade atual valoriza a “carreira de empreendedor” (entendida como “ser empresário”) é porque, na sua profundeza, vislumbra-a como a solução para a necessidade de cada indivíduo sentir-se autônomo, livre.

O Mercado está saturado, o país sofre com o desemprego e a Reforma Trabalhista gerou um grave aumento na quantidade de trabalhadores informais. Nesse contexto, algumas pessoas se ocupam em cursos, pós-graduações e especializações à espera do “emprego perfeito”, enquanto outras, não querem nem saber de “trabalhar para alguém”, querem ser “donas de um negócio”, seja ele qual for, então, esperam a “grande ideia” surgir. Em ambos os casos, o Sucesso (aqui entendido como estado de realização pessoal) ainda não existe.

Isso porque, não é errado se especializar e fazer cursos (muito pelo contrário, na minha opinião), bem como não é nenhum absurdo querer ter seu próprio negócio. A reflexão a ser feita é: você está exercendo sua Autonomia de Vontade ao fazer essa escolha? Você está praticando o Empreendedorismo ao decidir por determinado caminho? E, o mais importante, você consegue identificar quais Valores Sociais influenciaram e influenciam você nas suas “escolhas”?

Este não é um texto motivacional. Não quero ajudar você a encontrar seu propósito de vida ou sua vocação. Eu quero que existam profissionais realmente competentes e eficientes e empresas verdadeiramente idôneas e ilibadas. Para tanto, cada indivíduo deve exercer sua Autonomia de Vontade, deve praticar o Empreendedorismo e estar sempre atento em identificar os Valores Sociais que ditam “as regras” em cada momento da História.

Ter Liberdade não significa estar preso a nada, mas, sim, ter o poder de escolher ao que se quer estar “preso” e, isso é exercer Autonomia de Vontade. Ter Sucesso não significa (apenas) ter dinheiro, mas, sim, sentir-se realizado em razão de conseguir concretizar algo a que se propõe e, isso é praticar o Empreendedorismo. Por fim, quando mudamos o modo de observar as coisas, as coisas que observamos mudam e, isso constitui os Valores Sociais.

Sendo assim, se você quer ter Autonomia na sua vida, procure enxergar onde ou o que faz você sentir-se “livre” e vá viver (d)isso; se você quer ser Empreendedor, concretize ideias (suas – tornando-se um empresário, ou dos outros – trabalhando para alguém); e, se você deseja transformar Valores Sociais, comece mudando seu modo de observar as coisas!